Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
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Por Marcelo M. Prates - Eng. Ambiental e Apicultor
Entre os fragmentos de Mata Atlântica, bioma que em épocas passadas ocupava grandes extensões de terra, considerado ainda um dos mais ricos e diversos do planeta, uma relação especial floresce entre abelhas e o jatobá. Essa majestosa árvore, com suas exuberantes flores, nos evidenciam uma coexistência perfeita, moldada por milhões de anos de coevolução. As interações entre abelhas e flores na Mata Atlântica são fundamentais para a saúde e a biodiversidade desse bioma ímpar, que se estende ao longo da costa brasileira e abrange uma variedade de ecossistemas.
O jatobá é uma árvore impressionante, frequentemente alcançando alturas de até 30 metros. Sua casca grossa e resistente e suas folhas compostas e brilhantes são características marcantes. Durante a estação seca, o jatobá floresce, exibindo pequenas flores brancas a amareladas que exalam um aroma doce e atraente. Essas flores são cruciais para a polinização, servindo como fonte de alimento para várias espécies, incluindo as abelhas, um de seus principais polinizadores
Na Mata Atlântica, a diversidade de abelhas é vasta, incluindo espécies nativas como as abelhas sem ferrão (Meliponini), a exemplo, a conhecida Jataí (Tetragonisca angustula), além das abelhas melíferas (Apis mellifera), espécie introduzida e adaptada às condições ambientais do Brasil. Essas abelhas desempenham um papel importantíssimo na polinização das flores do jatobá. Ao buscar o néctar, transferem pólen de uma flor para outra, facilitando a fecundaçãoe, consequentemente, a produção de frutos. Os frutos do jatobá, conhecidos como "jutaí", são vagens grandes contendo polpa comestível e sementes. Esses frutos são uma importante fonte de alimento para diversos animais da Mata Atlântica, incluindo pássaros, roedores e primatas. Esses animais, por sua vez, ajudam na dispersão das sementes, promovendo o crescimento de novas árvores e sustentando a regeneração da floresta
A relação entre abelhas e jatobá é um exemplo clássico de coevolução. As flores do jatobá, assim como das demais plantas que produzem frutos, evoluíram para atrair abelhas com suas recompensas de néctar e pólen, além de sinais visuais e olfativos. Em resposta, as abelhas desenvolveram estruturas corporais e comportamentos específicos para explorar essas flores de maneira eficiente. Seus corpos peludos retém e dispersam (pólen) enquanto se movem de flor em flor, proporcionando que o gameta masculino atinja a parte do aparelho reprodutor feminino (estígma). Comunicam também por meio de uma forma de “dança”, a localização das flores para outras abelhas da colmeia.
A criação de abelhas sem ferrão (meliponicultura), assim como de abelhas com ferrão (apicultura), tem ganhado destaque como prática sustentável que beneficia tanto o meio ambiente quanto as comunidades locais. As abelhas, como agentes polinizadores, desempenham importante papel na manutenção da biodiversidade dos ecossistemas, proporcionando paralelamente fonte de renda para criadores por meio da produção de mel, própolis e outros produtos. Os apicultores e meliponicultores, por sua vez, com adoção de práticas racionais de manejo, extraem esses excelentes produtos naturais, ao mesmo tempo que contribuem para a preservação e manutenção das espécies.
A história de coexistência entre as abelhas e o jatobá é um exemplo notável de harmonia natural. Essa relação simbiótica, moldada por milhões de anos de evolução conjunta, ressalta a importância da biodiversidade e da conservação ambiental. Proteger as abelhas e seus habitats é essencial não apenas para a sobrevivência dessas espécies, mas também para a manutenção de um ecossistema saudável e equilibrado. Preservar essa harmonia, assim como adotar práticas sustentáveis de exploração é extremamente necessário para que nós, seres humanos, possamos prosperar e garantir a continuidade dos processos ecológicos que sustentam a vida no planeta.
Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
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