Apresentação
O jatobazeiro, árvore que produz o fruto jatobá, é uma espécie vegetal da família das febaceae, conhecida como leguminosa, constando entre as mais valorizadas comercialmente no mundo. Seu nome científico é Hymenaea sp., sendo encontrado na faixa tropical do continente americano, entre o México e o Centro-Sul brasileiro. Há várias espécies catalogadas no Brasil encontradas nos biomas Floresta Equatorial, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e Pantanal Mato-grossense. Seu nome na língua tupi-guarani significa fruto de casca dura.
Rico em cálcio, manganês, zinco, proteínas e fibras, esse fruto é consumido milenarmente por povos indígenas e comunidades tradicionais. A colheita ocorre no final do período das chuvas e a farinha serve como principal alimento durante todo o período de estiagem, que, no hemisfério Sul ocorre entre abril e setembro. Além do uso como alimento, sua casca, folhas, sementes e seiva são amplamente utilizados na medicina natural.
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Prof.ª dr.ª Izabel Castanha Gil
Em tempos marcados pelas complexas relações entre produção, circulação e consumo, parte da inovação consiste em criar novos arranjos que gerem eficiência nos processos, produtos e serviços. Soma-se a isso a inegável urgência por soluções ambientalmente responsáveis.
O Projeto Jatobá surge nesse contexto: fazer da regeneração ambiental uma forma criativa de oferecer alimentos saudáveis enquanto gera renda e repõe parte da biodiversidade. Imenso desafio numa região cuja vegetação original foi reduzida a menos de 5%; o fruto não faz parte da dieta alimentar tradicional e, em escala maior, ainda não constitui cadeia produtiva estruturada no país.
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Empório Flamejante é uma plataforma virtual experimental, que traz produtos de microempreendedoras e microempreendedoras de várias cidades do extremo oeste paulista. Está aberta também para produtos de todas as regiões do Brasil.
Tem como objetivo representar identidades regionais por meio de produtos confeccionados com técnicas manuais ou minimamente processadas. Procura dar visibilidade aos talentos locais, gerando renda para as pessoas envolvidas e envolvendo os consumidores numa experiência prazerosa, que une memória, utilidade, praticidade e responsabilidade ambiental.
A edição de agosto de 2024 da revista eletrônica Bonapetit está inteiramente dedicada à cadeia de valor do fruto nativo jatobá, cuja inovação é coordenada por Latitude 21 Frutos Nativos e Produtos Regionais. Em funcionamento desde 2020, o Projeto Jatobá envolve uma rede de cooperação técnica, científica, comercial, solidária e pedagógica empenhada na estruturação da cadeia de valor que transforma um fruto pouco apreciado em alimentos extraordinários.
Destinada ao público gastronômico, a revista Bonapetit tem alcance nacional e internacional, divulgando talentos e preciosidades da diversa e apreciada culinária brasileira. Nesta edição foram apresentados os principais envolvidos na construção da cadeia de valor do fruto nativo jatobá constituída por coletores, produtores de mudas, pesquisadores, culinarista, nutricionista, ceramista, parceiros comerciais e o chef responsável pela estruturação da gastronomia com a farinha de jatobá no oeste paulista.
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As marcas Empório Flamejante e Latitude 21 acabam de obter certificação junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), caracterizando um passo importante na construção da cadeia produtiva do fruto nativo jatobá (Hymenaea spp.) e para as atividades empreendedorísticas em curso. Os certificados têm vigência de dez anos, indo de dezembro de 2024 a dezembro de 2034, constituindo um bom período para consolidação e expansão das marcas.
Empório Flamejante constitui-se numa plataforma virtual experimental, que atua como canal de comercialização de produtos à base de jatobá e produtos regionais. Latitude 21 é a fundadora do Projeto Jatobá e mantenedora do canal virtual, atuando como articuladora de uma rede de cooperação técnica, científica, solidária e comercial, com o propósito de organizar a cadeia produtiva desse fruto. Está sediada em Adamantina/SP e tem características peculiares de atuação, uma vez que a principal matéria prima é obtida por meio de extrativismo.
O nome “flamejante” remete a colorido, pujante, brilhante, resplandecente. Latitude 21 vem de um fato inusitado: o Projeto Jatobá iniciou-se numa área localizada no extremo oeste do estado de São Paulo, composta por trinta municípios, onde vivem cerca de 390.000 pessoas (IBGE, 2024). Curiosamente, os trinta municípios localizam-se no paralelo 21 Sul, tornando-se um fator em comum entre todos eles.
Atuando em rede, os organizadores trabalham para expandi-la a todo o território nacional, envolvendo grupos e organizações de vários estados e de vários biomas brasileiros. O registro das marcas fortalece e protege a iniciativa.
O jatobazeiro é uma espécie vegetal arbórea encontrada em vários biomas brasileiros. No oeste paulista, onde ocorre a iniciativa, fazia parte do bioma Mata Atlântica. A madeira nobre estimulava o corte abusivo da árvore, chegando a sua quase extinção. O extrativismo constitui-se numa atividade econômica que não provoca a supressão da matriz, contribuindo, portanto, para a preservação da vegetação original. Para que aconteça, o extrativismo precisa do bioma em pé, contribuindo para a sua preservação. Na área de ocorrência, pessoas de vários segmentos sociais coletam os frutos nas árvores remanescentes, tais como mulheres, aposentados, jovens e pequenos agricultores.
A necessidade de ampliação da matéria prima estimula o reflorestamento do jatobá e de outras espécies nativas. Constitui-se, portanto, num negócio socioambiental. Sem a tradição de outras regiões brasileiras, aos poucos, vai despertando a curiosidade e o interesse de pessoas que têm completado a sua renda com a coleta do fruto, cuja safra ocorre entre setembro e novembro. Na outra ponta, disponibiliza alimentos sem glúten e ricos em nutrientes, como cálcio, magnésio, potássio, ferro, fibras e outros minerais, o que classifica o jatobá como superalimento.
O registro no INPI proporciona segurança à organização que o pleiteia, pois evita que outras empresas utilizem de má fé ou, inadvertidamente, intencionam o mesmo nome ou a mesma logomarca, gerando transtornos jurídicos para a detentora original. Impede fraude e aumenta o valor da empresa, uma vez que a coloca em outro patamar. Na economia do conhecimento, esse direito promove diferenciais competitivos, preservando e fortalecendo a identidade da marca.
O Instituto Nacional da Propriedade Industrial é uma autarquia federal com a finalidade de registrar e promover as marcas e patentes. Foi criado em 1970, pela Lei nº 5.648, e vincula-se ao Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), sendo “responsável pelo aperfeiçoamento, disseminação e gestão do sistema brasileiro de concessão e garantia de direitos de propriedade intelectual para a indústria”. No site do referido órgão, lê-se: “entre os seus serviços estão os registros de marcas, desenhos industriais, indicações geográficas, programas de computador e topografias de circuitos, concessões de patentes e as averbações de contratos de franquia e das distintas modalidades de transferência de tecnologia”.
Marca difere de patente e de direitos autorais. De acordo com o site www.jusbrasil.com.br, “marca é a expressão ou o sinal gráfico que identifica a procedência de um produto ou de um serviço”, enquanto a patente “é um registro obtido sobre uma invenção ou inovação promovida sobre alguma tecnologia já existente”. As duas modalidades são expedidas pelo INPI. Já os direitos autorais “existem para proteger os direitos dos autores de obras artísticas, intelectuais, científicas”. Sua concessão é expedida pela Biblioteca Nacional.
Sabendo do desafio imposto pela proposta inovadora de organizar uma cadeia produtiva ainda desarticulada no Brasil, a certificação constitui passo importante e estrutural, dando credibilidade a um trabalho abrangente e realizado em rede.
Escrito por Izabel Castanha Gil, fundadora de Empório Flamejante e Latitude 21 Frutos Nativos e Produtos Regionais.
Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
Link da matéria: aqui
A dimensão artística do Projeto Jatobá permeia toda a sua cadeia de valor. Quer seja na poesia do processamento manual do fruto, no preparo dos alimentos, nas peças que abrigam esses alimentos, nos adereços que enfeitam a mesa ou em quem ostenta uma biojoia...
Nesse contexto, o jatobá ganhou uma melodia, cuja letra enaltece a espécie, o bioma do qual faz parte, a sua potencialidade alimentícia e farmacológica, os usos da madeira e o impacto de modelos predatórios de exploração dos recursos naturais. A letra é de Izabel Castanha Gil, com melodia e voz de Cida Ajala, arranjo musical de Anselmo Ferreira e acordeão de Emerson Barbosa. O gênero musical chama-se huaino ou huaiño, originário dos povos andinos peruanos, evocando a ancestralidade presente no universo que envolve o fruto nativo jatobá
O talento e a versatilidade de Cida Ajala dão charme e identidade ao Projeto Jatobá, que, por sua vez, compõem o movimento cultural Latitude 21. Cantora e compositora, ela é integrante da Orquestra de Viola Caipira de Presidente Prudente (onde reside), é membro da Associação Prudentina de Escritores (APE) e participante do Coral Santa Rita.
Com intensa inspiração musical, Cida Ajala tem três CDs autorais e apresenta-se em palcos de muitas cidades brasileiras. Suas músicas são ouvidas em rádios e web rádios do mundo. Suas canções podem ser acessadas também pelo Spotfy
Desde 2019, por meio do projeto Musicando sua Poesia, faz parte do movimento cultural Latitude 21, musicando poemas de escritores que representam identidades regionais do extremo oeste paulista, imortalizando características da paisagem, vivências e personagens marcantes. São mais de 30 poemas musicados, gravados e com direitos autorais registrados, todos com a marca do estilo raiz. O sucesso de Musicando sua Poesia repercutiu-se e Cida Ajala apresentou programas radiofônicos na Rádio Brazzuca, de São Paulo, e Latitude 21, na Rádio Cultura FM do Centro Universitário de Adamantina. Apresentou também o programa Raízes do Interior, na TV Xanxerê, de Santa Catarina.
Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
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