O jatobá, fruto típico de vários biomas brasileiros, vem ganhando destaque no cenário gastronômico graças a projetos como o coordenado pela professora Izabel Castanha Gil, que participou recentemente do evento Mesa SP. O encontro, que celebra a inovação e a criatividade culinária, serviu de palco para a apresentação das criações gastronômicas com o uso do jatobá como ingrediente central. Esse avanço é fruto de estudos e da colaboração entre instituições de pesquisa, órgãos técnicos e coletores.
A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) Regional tem papel importante na estruturação da cadeia produtiva do jatobá, sendo que o projeto surgiu no polo de Adamantina, que constitui uma das fazendas vinculadas à Secretaria Estadual de Agricultura. Por meio dela o Projeto Jatobá chegou até a Mesa São Paulo, versão 2024, que aconteceu em novembro último, no Memorial da América Latina.
A inserção do jatobá na gastronomia é resultado direto desses esforços, oferecendo uma solução para o aproveitamento econômico do fruto e a valorização das comunidades envolvidas na coleta e produção. Além disso, a iniciativa colabora com a conservação da biodiversidade, incentivando práticas responsáveis.
No evento Mesa SP, as criações apresentadas surpreenderam pela capacidade de integrar o jatobá em pratos sofisticados e inovadores. Seu sabor característico, levemente adocicado e terroso, permite aplicações diversas, desde pães e bolos até sobremesas e bebidas. Entre os destaques estão:
Essas criações ressaltam não apenas a versatilidade do fruto, mas também seu valor econômico para o Brasil.
O jatobá é rico em nutrientes e oferece uma série de benefícios à saúde, como:
Além disso, a valorização da cadeia produtiva do jatobá gera impacto positivo nas comunidades rurais e ajuda a manter as florestas em pé, integrando a preservação ambiental à economia local.
O sucesso das criações apresentadas no Mesa SP mostra que o jatobá tem grande potencial para se consolidar como um ingrediente essencial na alta gastronomia brasileira. O desafio agora é aumentar a produção, mantendo os princípios responsáveis e ampliando o mercado para esse fruto tão singular.
A APTA Regional e a professora Izabel Castanha Gil seguem liderando a difusão do jatobá e incentivando parcerias entre chefs, pesquisadores e produtores, visando posicionar o Brasil como um referência global na valorização de ingredientes nativos.
O jatobá é muito mais do que um fruto; ele representa a união entre tradição e inovação. Graças a projetos como o coordenado pela professora Izabel Castanha Gil e ao apoio da APTA Regional e de outras instituições, o jatobá tem conquistado espaço na mesa dos brasileiros e se destacado em eventos como o Mesa SP.
Esse movimento reforça a importância de valorizar os ingredientes da biodiversidade brasileira e, ao mesmo tempo, criar oportunidades econômicas para o país.
Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
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O artesanato e as manualidades presentes nas peças de ornamentação ou funcionais e em alimentos preparados à margem dos processos industriais refletem saberes e fazeres ancestrais, que imprimem a identidade de um povo. Um simples pano de prato pode carregar habilidades repassadas por gerações; o paladar de um quitute pode guardar histórias genuínas de opulência ou de privações. O agito das feiras remete ao escambo praticado há séculos. Fazendo parte dessa teia, os consumidores são atraídos pelas novidades escondidas nas bancas (ou até mesmo à procura de mais do mesmo), pela interação social que as feiras promovem, pelo som de músicas quase sempre interpretadas por artistas conhecidos, que resgatam memórias.
Essas feiras são mágicas na arte do encontro, da inspiração e da esperança, pois mesmo que o faturamento não seja alto, quem expõe se diverte, reencontra pessoas, se inspira e recarrega as energias para o próximo evento. Nada mais democrático e interativo que essas iniciativas populares, pois envolvem a base e o topo da pirâmide social, indo desde aquela senhorinha que tece formas com agulha e linha até as autoridades locais, quase sempre envolvidas na organização.
Nas vielas que permeiam as exposições estão pessoas de todos os gêneros, idades e extratos sociais. Alguns se satisfazem na praça de alimentação, outros garimpa preciosidades, outros buscam interações sociais. Tem-se, portanto, um fenômeno social, cultural e econômico considerável. A economia criativa encanta, gera e distribui renda. Espalhadas pelo mundo e pelos quatro cantos do país, as feiras resistem ao tempo. São experts em adaptar-se a novas realidades, sendo uma delas o uso das tecnologias da informação para mobilização, organização, divulgação e vendas. Nada mais moderno para um público majoritariamente composto por adultos e idosos.
Espichando as feiras e as vendas individuais, surgem as plataformas de e.commerce no estilo marketplace, tornando-se vitrines permanentes dessas manifestações culturais e criativas. Elas ampliam o alcance da visão e conectam públicos inimagináveis, porém conectados por interesses comuns.
Assim nasce a plataforma www.emporioflamejante.com.br. Ainda jovem e em fase de consolidação, propõe-se a apresentar, promover, conectar, perpetuar e gerar renda. Nela estão amostras de produtos que representam o extremo oeste do estado de São Paulo, porém aberta a divulgar produtos de outras regiões do Brasil. Ali estão geleias, balas de coco, licores, doces glaceados, bolachinhas de nata, literatura regional expressa em livros, bordados, biojoias, panos de prato, velas artesanais, representações histórico-geográficas, trabalhos em madeira e outras opções. Ela agrega dezenas de microempreendedores de várias cidades aglutinados na mantenedora Latitude 21 Frutos Nativos e Produtos Regionais. Com sua técnica e arte, esses microempreendedores perpetuam saberes e sabores, levam soluções e enfeitam a sua casa.
Delicie-se. Exponha. Compre. Presenteie. Divulgue. Faça parte
Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
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Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
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Por Prof. Dr. Fernando S. Okimoto
Não há uma definição sedimentada de bioconstrução na literatura, pelo menos na atual. Fala-se de construções sustentáveis, materiais ecofriendly, técnicas apropriadas e outras, mas sem uma visão mais abrangente e sistêmica da construção civil.
A bioconstrução sempre foi mais alinhada com construções em terra crua ou bambu, sem tecnologias e equipamentos envolvidos, quase um sinônimo de construções rudimentares. Entretanto, a busca por um novo paradigma para a construção civil contemporânea, fundamentada na sustentabilidade ambiental, econômica e social, com tecnologia, tem ampliado o conceito de bioconstrução para algo como:
Sendo assim, não é possível negar a tecnologia, é incoerente não reconhecer o papel transformador que ela pode desempenhar ao viabilizar e humanizar as necessidades construtivas de espaços e ambientes. Alinhado a esta inversão de paradigma, o uso de madeiras de florestas plantadas, manejadas em detrimento dos tradicionais concretos, dos aços e de madeiras de florestas nativas é uma excelente alternativa.
As florestas manejadas produzem madeiras mais apropriadas à construção civil, produzem trabalhos mais formais e seguros, sequestram CO2, são renováveis, têm menos defeitos físicos como nós, consomem pouca energia elétrica e água no seu ciclo de vida e, após o fim da vida útil do material, seu descarte será absorvido pelo meio ambiente rapidamente.
Normalmente, se plantam áreas de espécies do gênero pinus e eucaliptos por sua rapidez de crescimento, facilidade de tratamentos preventivo químicos (para o pinus!) e porque o mercado externo acaba por comprar tudo o que for colocado à venda.
As durabilidades naturais dessas espécies não são grandes e para aumentar a durabilidade e diminuir a manutenção, são tratados dessa forma. Assim, pode-se perceber o paralelismo com a grandeza e diversidade da cadeia de valor do Jatobá (hymenaea sp), aqui descritas.
O viés não contaminante das escolhas bioconstruídas toca os conceitos de segurança alimentar dentro da cadeira de valor do Jatobá. As escolhas materiais também, mas ficam mais evidentes as bioconstruções das infraestruturas de saneamento (abastecimento, esgotamento, drenagem e resíduos sólidos que a bioconstrução se preocupa. Exemplifica-se com utilização de materiais residuais de outros setores industriais e até mesmo da própria indústria da construção civil como materiais de construção. Utilização de materiais de demolição, entulhos da construção civil tradicional e outros resíduos incorporados na produção de materiais para novas construções. O alto aproveitamento material em todas as etapas da cadeira do Jatobá tangencia esses conceitos supracitados.
Por fim, dentro da cadeia do Jatobá, no final da produtividade da árvore, a madeira de jatobá pode ser aproveitada para a construção civil. A situação de redução de espécimes existentes foi construída sobre o entendimento que a madeira de jatobá é resistente e durável, dentre outras características físicas que levaram a seu extermínio em massa no passado recente. Sabe-se do uso intenso da madeira de jatobá em estrutura expostas por causa da sua alta durabilidade natural. Segundo Lahr et al (2016), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas avaliou o jatobá genérico (IPT, 1989 apud Lahr et al, 2016) e afirma que as propriedades mecânicas da madeira são elevadas, sendo o valor médio de resistência na compressão paralela às fibras são de 82,2 MPa (a 15% de teor de umidade). Também caracterizam a madeira de jatobá como altamente resistente ao ataque de fungos, impermeável a tratamentos preservativos, com densidade aparente de 0,96g/cm3 (a 15% de teor de umidade). Assim, fica claro que a madeira de jatobá manejado deve ser indicada para estruturas eficientes, resistentes e duráveis cruzando com a cadeia de valor do jatobá.
Portanto, estamos trabalhando na proposição de um espaço físico em um terreno de 13m por 33m, que agregaria o recebimento, o processamento do fruto e a triagem da casca, da semente e do fruto, caracterizando o processamento do fruto para a produção de farinha. A proposta é bioconstruída com estrutura das paredes e os pisos em blocos de solo-cimento com resíduos da construção civil e coberturas em geodésicas de madeira de reflorestamento em um primeiro momento e madeira de jatobá, na primeira oportunidade de manutenção material da geodésica. Outras tecnologias são previstas para outros subsistemas do espaço. Revestimentos impermeáveis de Tadelakt para as pias de banheiro e de cozinha. Saneamento mais ecológicos.
Tal proposta se fundamenta no planejamento permacultural que incorpora os conceitos de agroecologia, da bioconstrução e das tecnologias sociais. Aliado a bioconstrução, hortas e espirais de ervas, torres aeropônicas são sugeridas para uma soberania e segurança alimentar na agroecologia, assim como a organização cooperativa e colaborativa dialógicas das tecnologias sociais.
Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
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Por Marcelo M. Prates - Eng. Ambiental e Apicultor
Entre os fragmentos de Mata Atlântica, bioma que em épocas passadas ocupava grandes extensões de terra, considerado ainda um dos mais ricos e diversos do planeta, uma relação especial floresce entre abelhas e o jatobá. Essa majestosa árvore, com suas exuberantes flores, nos evidenciam uma coexistência perfeita, moldada por milhões de anos de coevolução. As interações entre abelhas e flores na Mata Atlântica são fundamentais para a saúde e a biodiversidade desse bioma ímpar, que se estende ao longo da costa brasileira e abrange uma variedade de ecossistemas.
O jatobá é uma árvore impressionante, frequentemente alcançando alturas de até 30 metros. Sua casca grossa e resistente e suas folhas compostas e brilhantes são características marcantes. Durante a estação seca, o jatobá floresce, exibindo pequenas flores brancas a amareladas que exalam um aroma doce e atraente. Essas flores são cruciais para a polinização, servindo como fonte de alimento para várias espécies, incluindo as abelhas, um de seus principais polinizadores
Na Mata Atlântica, a diversidade de abelhas é vasta, incluindo espécies nativas como as abelhas sem ferrão (Meliponini), a exemplo, a conhecida Jataí (Tetragonisca angustula), além das abelhas melíferas (Apis mellifera), espécie introduzida e adaptada às condições ambientais do Brasil. Essas abelhas desempenham um papel importantíssimo na polinização das flores do jatobá. Ao buscar o néctar, transferem pólen de uma flor para outra, facilitando a fecundaçãoe, consequentemente, a produção de frutos. Os frutos do jatobá, conhecidos como "jutaí", são vagens grandes contendo polpa comestível e sementes. Esses frutos são uma importante fonte de alimento para diversos animais da Mata Atlântica, incluindo pássaros, roedores e primatas. Esses animais, por sua vez, ajudam na dispersão das sementes, promovendo o crescimento de novas árvores e sustentando a regeneração da floresta
A relação entre abelhas e jatobá é um exemplo clássico de coevolução. As flores do jatobá, assim como das demais plantas que produzem frutos, evoluíram para atrair abelhas com suas recompensas de néctar e pólen, além de sinais visuais e olfativos. Em resposta, as abelhas desenvolveram estruturas corporais e comportamentos específicos para explorar essas flores de maneira eficiente. Seus corpos peludos retém e dispersam (pólen) enquanto se movem de flor em flor, proporcionando que o gameta masculino atinja a parte do aparelho reprodutor feminino (estígma). Comunicam também por meio de uma forma de “dança”, a localização das flores para outras abelhas da colmeia.
A criação de abelhas sem ferrão (meliponicultura), assim como de abelhas com ferrão (apicultura), tem ganhado destaque como prática sustentável que beneficia tanto o meio ambiente quanto as comunidades locais. As abelhas, como agentes polinizadores, desempenham importante papel na manutenção da biodiversidade dos ecossistemas, proporcionando paralelamente fonte de renda para criadores por meio da produção de mel, própolis e outros produtos. Os apicultores e meliponicultores, por sua vez, com adoção de práticas racionais de manejo, extraem esses excelentes produtos naturais, ao mesmo tempo que contribuem para a preservação e manutenção das espécies.
A história de coexistência entre as abelhas e o jatobá é um exemplo notável de harmonia natural. Essa relação simbiótica, moldada por milhões de anos de evolução conjunta, ressalta a importância da biodiversidade e da conservação ambiental. Proteger as abelhas e seus habitats é essencial não apenas para a sobrevivência dessas espécies, mas também para a manutenção de um ecossistema saudável e equilibrado. Preservar essa harmonia, assim como adotar práticas sustentáveis de exploração é extremamente necessário para que nós, seres humanos, possamos prosperar e garantir a continuidade dos processos ecológicos que sustentam a vida no planeta.
Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
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Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
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No Brasil, apenas 4% dos resíduos sólidos gerados são reciclados. Ficamos abaixo de países como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia, que apresentam uma média de 16% de reciclagem, segundo dados da International Solid Waste Association (ISWA). Em relação aos países desenvolvidos, o caminho a percorrer é ainda mais longo. Na Alemanha, por exemplo, o índice de reciclagem alcança 67%.
O destino desses resíduos precisa ser feito de forma ambientalmente responsável. Na lógica da economia circular, esses produtos são projetados para serem facilmente incorporados pelo solo e, para isso, é necessário optar por ingredientes seguros para as pessoas e para o meio ambiente, sem uso de produtos químicos tóxicos ou processos de fabricação poluentes, além de utilizar materiais biodegradáveis e de origem renovável.
As bioembalagens desenvolvidas pela OKA utilizam a mandioca como base e, por isso, são compostáveis, comestíveis, sem glúten, forneáveis e sem uso de petroquímicos, garantindo que sejam 100% biodegradáveis e compostáveis de modo doméstico, em menos de 30 dias.
A escolha pela mandioca é bastante simbólica. Esse tubérculo, cultivado há mais de 9 mil anos, teve seu cultivo disseminado entre diversas etnias indígenas e seguiu se desenvolvendo ao longo do curso dos grandes rios amazônicos, que são até hoje as principais vias de transporte da região. "Mandioca" origina-se do termo tupi mãdi'og, que significa "casa de Mani", sendo Mani a deusa generosa dos guaranis.
O cultivo da mandioca é pouco exigente em termos de irrigação, resiste bem a períodos de seca e em regiões mais quentes, ou seja, em toda a zona tropical do planeta. Além disso, a mandioca pode ser produzida em consórcio com outras culturas e em agroflorestas, diferentemente das matérias-primas do papel e da cana-de-açúcar, que são tidas como monoculturas transgênicas e que contribuem para o empobrecimento do solo e a exclusão da fauna da região onde estão inseridas. O consumo de água no processo industrial das bioembalagens é bastante baixo, além de a produção ser limpa e não gerar resíduos.
Pode-se também usar como base os resíduos de cadeias agroextrativistas e de indústrias alimentícias como cacau, jatobá, açaí e babaçu, contribuindo ainda mais para a diminuição de resíduos industriais orgânicos. Comparado às embalagens plásticas, estas consomem pelo menos 50 vezes mais água em seu processo e persistem na natureza por até 100 anos. Em relação aos copos de papel, embora também compostáveis, seu processo industrial não é totalmente limpo, utilizam até 1000 vezes mais água e contaminam o solo e lençóis freáticos. Recentemente, a Oka Embalagens introduziu farinha da casca e farinha da semente do jatobá nas embalagens e o resultado foi satisfatório. Tem-se um produto à base de fécula de mandioca, agora enriquecido com as sobras do processamento de um fruto nativo, ampliando a sua cadeia produtiva. Ao saborear o sorvete de jatobá numa embalagem comestível enriquecida com matérias-primas reaproveitadas do próprio fruto, dá-se um passo importante na proposta de valor voltada à regeneração dos biomas nativos e na economia circular.
Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
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Por Ana Cecília Bruni | Comunicação Instituto Auá
Assim como o jatobá, uma diversidade de frutas nativas do bioma Mata Atlântica foi esquecida ou ainda é desconhecida de uma grande parte da população brasileira. Grumixama, araçá, cambuci, juçara, jerivá, caraguatá e muitas outras espécies são riquíssimas em benefícios nutricionais e muito versáteis na gastronomia. Seus sabores são únicos e quando transformados em pratos ou bebidas, encantam imediatamente aqueles que os experimentam. Muitas destas frutas ainda despertam memórias afetivas, de um tempo em que eram encontradas nos pomares e quintais.
Porém, os ciclos econômicos do café, do gado e do eucalipto na região do bioma, bem como seu desmatamento, tornaram a presença destas preciosidades cada vez mais raras na mesa das pessoas. Além disso, a colonização do paladar e o marketing influenciam a procura e a valorização das frutas estrangeiras pelos brasileiros.
Estruturar e fortalecer a cadeia produtiva das frutas nativas da Mata Atlântica, cultivadas especialmente no estado de São Paulo, em escala familiar, depende do engajamento e da formação de uma rede de atores que promovam desde pesquisas de campo até melhores práticas de manejo e beneficiamento, assim como a comercialização e o consumo. O desconhecimento do mercado e dos consumidores em relação aos frutos nativos da Mata Atlântica ainda é o maior de todos os desafios. Desde 2009, no entanto, o Instituto Auá de Empreendedorismo Socioambiental, organização sem fins lucrativos localizada em Osasco, São Paulo, abraçou a missão de contribuir com a conservação do bioma por meio do ecomercado. A partir da produção agroecológica e da restauração ecológica produtiva com espécies nativas da Mata Atlântica, envolvendo agricultores familiares no entorno da Serra do Mar Paulista, o Instituto Auá não só estimula este elo da cadeia, como também vem investindo recursos nas áreas comercial e logística, viabilizando o mercado principalmente na Grande São Paulo.
Tudo começou com a Rota do Cambuci. A Rota do Cambuci é um movimento de resgate da fruta nativa cambuci, que reúne quatro frentes de atuação: a gastronômica, turística, a de pesquisa e o arranjo produtivo. O movimento envolve desde agricultores, artesãos, gestores públicos, chefs, nutricionistas, artistas, sociedade civil, universidades, comerciantes, entre outros, e realiza, com apoio do Instituto, festivais anuais para divulgar o fruto e a sua cultura, movimentando o turismo local dos municípios participantes e gerando renda para diversas famílias.
A partir da reunião dos agricultores da Rota do Cambuci, o Instituto Auá passou a coordenar, em 2014, o Arranjo Produtivo Local (APL) Agroecológico da Mata Atlântica, que foi reconhecido em 2020 pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo. Atualmente o APL produz, por exemplo, 20 toneladas anuais de cambuci, seguindo princípios do comércio justo e da agroecologia. Os frutos congelados e produtos derivados são armazenados pelo Instituto Auá em um galpão próprio de 500 m2 e destinados aos setores do Food Service, Varejo, Indústria Alimentícia e Hotelaria. Já são muitos chefs e restaurantes criando receitas autênticas e saudáveis e uma série de empresas desenvolvendo produtos como cervejas, kombuchas, geleias, molhos, chocolates, sorvetes, entre outros, com os sabores nativos. Estabelecimentos engajados com a causa da sustentabilidade vêm comercializando os produtos derivados para seus públicos e sensibilizando os consumidores para a conservação dos biomas brasileiros e de sua biodiversidade. Para armazenar produtos da biodiversidade mantém o galpão Armazém Biomas, instalado em Osasco/SP.
O que começou com um movimento para resgatar o cambuci da lista de espécies ameaçadas de extinção pela IUCN e hoje conta com um Arranjo Produtivo, ganhou ainda mais corpo com as ações do Instituto Auá. O Instituto criou a própria marca de produtos, o Empório Mata Atlântica, que leva para o público picolés e cremes nos sabores Uvaia, Cambuci, Juçara e Jabuticaba, além de polpas destes e outros frutos nativos.
Mas o Instituto Auá não parou por aí e decidiu apostar no fortalecimento das cadeias produtivas de outros biomas, abrindo seu galpão e equipe comercial e logística para apoiar cooperativas como a Central do Cerrado e marcas amazônicas ou da caatinga.
Fundado pela agrônoma Ondalva Serrano em 1997, O Instituto Auá tem como propósito promover alternativas econômicas mais sustentáveis e que valorizam a vida em todas as suas formas. Auá significa “gente” em tupi e aposta no potencial humano e no empreendedorismo socioambiental para promover impactos positivos.
Acredita que aumentar a produção de alimentos agroecológicos e agroflorestais representa a luta pela Floresta em Pé. E para reforçar esta causa, lançou recentemente a Campanha Guardiões da Mata Atlântica, para fortalecer pequenos produtores agroecológicos situados na faixa da Mata Atlântica, onde produzem frutas nativas e seus derivados, respeitando os saberes tradicionais e a biodiversidade
Para se tornar um Guardião da Mata Atlântica, a proposta é que chefs e estabelecimentos comerciais ligados à alimentação e à gastronomia, desenvolvam e incluam em seus cardápios receitas de pratos ou bebidas que levem os frutos nativos, como já vem fazendo o Athenas Restaurante e o Bar dos Arcos. No caso dos estabelecimentos comerciais, a ideia é que comercializem os produtos derivados e comuniquem a causa. As indústrias alimentícias podem incorporar os ingredientes em novos produtos, como já faz a Bacio di Latte. Para isso, o Instituto oferece aos guardiões peças de comunicação visual para os pontos de venda e conteúdos para as redes sociais. As empresas participantes podem receber o Selo Guardião da Mata Atlântica, uma vez que estão ajudando na conservação das florestas e na geração de renda para famílias que estão preservando o bioma com a agricultura agroecológica.
Para além da inclusão dos frutos na gastronomia e no mercado de alimentos, empresas Guardiãs da Mata Atlântica também podem patrocinar projetos que envolvam plantios com restauração ecológica produtiva e capacitação e infraestrutura para agricultores
Se você se interessou em fazer parte e se tornar um guardião da Mata Atlântica, visite a página https://guardioesdamataatlantica.brizy .site/ siga o Instituto Auá nas redes sociais @institutoaua ou entre em contato pelo Whatsapp 11 99643-2597 (Daniel Back, coordenador da campanha) ou ainda pelo e-mail vendas@aua.org.br
O trabalho de Latitude 21 Frutos Nativos integra a Campanha Guardiões da Mata Atlântica, cuja aquisição do selo está em fase de estruturação.
Texto publicado originalmente na revista digital Latitude 21, edição de agosto de 2024.
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Por Ana Cecília Bruni | Comunicação Instituto Auá
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