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Matéria de Izabel Castanha Gil

Recentemente, a
Empório Flamejante foi citada por Jaqueline Gil, uma das palestrantes na Semana do Clima de Nova York, como um dos exemplos de negócio socioambiental, que incorpora a regeneração ambiental em seus princípios e estratégias. O artigo denominado A nova fronteira em viagens e turismo: regeneração, publicado no site Turismo Spot, trata dos desafios e da responsabilidade do turismo em tempos de crise climática, tendo a regeneração como uma das palavras chave para a cadeia de valor que se construiu com e em torno dele.

Entre os exemplos de iniciativas que procuram consorciar exploração econômica, responsabilidade ambiental e inovação a autora cita a Empório Flamejante, uma plataforma de comércio virtual que reúne artesãos, manualistas, preparadores de alimentos naturais, escritores e artistas, cuja sede localiza-se em Adamantina, oeste do estado de São Paulo. Por trás dessa movimentação encontra-se o Projeto Jatobá, idealizador e catalisador de pequenos negócios e de genuínas manifestações culturais, cujas práticas valorizam as matérias primas, as criações autorais, as temáticas e as técnicas e tradições locais e regionais.

O território onde nasceu o Projeto Jatobá era recoberto pela Mata Atlântica, cuja exploração econômica, sob modelos tradicionais, provocou intensa redução do bioma original. Restam apenas cerca de 2% de fragmentos, insuficientes para a manutenção do equilíbrio ambiental necessário para a fertilidade do solo, manutenção dos corpos d´água e, consequentemente, de toda a cadeia alimentar daquele ecossistema.

Desafiando probabilidades, o Projeto Jatobá inicia-se sob três desafios estruturais: o pequeno número de jatobazeiros (Hymenaea sp.) remanescentes, espalhados em praças urbanas, margens de rodovias e nos campos; o pouco uso do fruto e de seus derivados (especialmente farinha) na culinária regional e a inexistência de uma cadeia produtiva organizada, como já ocorre, entre tantas outras, com a laranja, a manga, o tomate e, mais recentemente, o açaí.

Devido ao longo tempo necessário para que um jatobazeiro comece a produzir (cerca de 20 anos), as regiões que exploram os frutos e demais derivados praticam a coleta, cuja prática é conhecida como extrativismo. Existem diferenças estruturais entre a agricultura e o extrativismo. A agricultura constitui-se numa das primeiras atividades não nômades praticadas pela humanidade, imprimindo forte marca na civilização humana, especialmente na ocidental. Inicialmente realizada nos vales férteis, aos poucos ela foi aprimorando técnicas e seguindo para os espigões. O aumento da população e a sua sucessiva urbanização influenciada pela atividade industrial estimularam a ciência a desenvolver sofisticadas técnicas para aumentar a produtividade, a diversificação e a oferta de alimentos. Assim, a agricultura monocultora tradicional e, mais recentemente, mecanizada, avançou para todos os continentes, constituindo uma complexa teia de produção, circulação e consumo. Na essência, a agricultura substitui a biodiversidade pela monodiversidade, transformando área de florestas biodiversas em gigantescos campos de soja, pastagens ou canaviais. Se, por um lado, atende a crescente demanda industrial por matérias primas ou para exportação, por outro, empobrece os biomas, provoca erosões e assoreamentos, cujo tempo histórico em que vivemos vem demonstrando a fúria da natureza desencadeada por esses desequilíbrios.

Enquanto a agricultura e a pecuária monocultoras precisam da floresta no chão, o extrativismo, ao contrário, precisa da floresta em pé. A palavra floresta, aqui, refere-se a bioma, pois o extrativismo é praticado também em áreas do Cerrado, da Caatinga, do Pantanal Mato-Grossense, nos campos e nos manguezais. Povos originários e comunidades tradicionais deles extraem frutos, flores, cascas, folhas, raízes e seiva, que constituem a sua alimentação, o seu abrigo e os seus medicamentos naturais.

A indústria farmacêutica e de cosméticos sabem do valor dos princípios ativos das plantas, enquanto a informação e a percepção da saturação do modelo hegemônico vigente têm feito crescer a procura por produtos naturais. O mesmo vem acontecendo com a alimentação: aumenta a procura por alimentos naturais, principalmente aqueles que se colocam na contramão dos ultraprocessados, livres de glúten e organicamente ricos em nutrientes.

Na mesma proporção cresce a percepção das pessoas quanto ao seu papel como consumidor, uma vez que a maior parte das matérias primas provém da natureza. É no consumo que se fecha o circuito da produção e da circulação, daí a importância do consumo responsável. Se não houver pessoas que compram e usam pingentes feitos com ossos de tartaruga marinha, não haverá predação desse animal; se não houver comprador para produtos à base da queratina encontrada no chifre do rinoceronte, não haverá caça predatória deles; se não houver quem ostente calçados e acessórios feitos com pele de cobra ou de jacaré, não se justifica a caça ilegal desses animais; se não houver quem consome palmito sem comprovação de procedência, reduz-se o extrativismo não legalizado. O mesmo acontece com os alimentos contaminados com agrotóxicos, que, além de fazerem mal à saúde humana, exterminam as abelhas, fundamentais para a polinização necessária à produção de alimentos.

É nesse contexto e com esses princípios, que nasce o Projeto Jatobá. Por meio de uma rede técnica, científica, solidária e comercial os envolvidos vêm se empenhando em organizar a cadeia produtiva desse fruto, estruturando a dimensão alimentícia e investindo em P&D para o desenvolvimento de novos produtos, diante das quase inesgotáveis possibilidades desse recurso natural. Promove a coleta dos frutos caídos das árvores remanescentes, gerando o aproveitamento de um bem valioso e desperdiçado, enquanto gera renda aos coletores; estimula a inserção da espécie em iniciativas de reflorestamento, contando com mais de 12.000 mudas plantadas; pratica a educação ambiental envolvendo estudantes e professores em suas ações socioeducativas; inspira criações artísticas de várias naturezas; enriquece receitas tradicionais pelas mãos de cozinheiras experientes; inspira uma plêiade de criações artesanais, como bordados, biojoias, cosméticos, entre outros; investe em criações gastronômicas sofisticadas, dando escala industrial a algumas delas.

Acessando https://youtu.be/FDJbW2lsYiU, você pode conhecer um pouco desse trabalho no vídeo feito para a música Jatobá, cuja criação inspirou-se no movimento de estruturação da cadeia produtiva baseada em princípios socioambientais.

Empório Flamejante é o canal experimental de comercialização dessas criações, disponibilizando produtos de um grupo de microempreendedores e levando informações sobre eles a consumidores sensíveis e ávidos pela interação, por meio do consumo responsável. Acessos podem ser obtidos em www.emporioflamejante.com.br e @emporio.flamejanteclub.

Você pode fazer parte do Projeto Jatobá divulgando informações, acessando o site e o Instagram, comprando, consumindo e presenteando com os nossos produtos. Pode também financiar ou indicar projetos de reflorestamento.

Congratulamos com a palestrante da Semana do Clima de Nova Iorque e agradecemos o reconhecimento do nosso trabalho, que cresce a cada dia, com a adesão de pessoas engajadas em causas socioambientais. Ainda em fase de estruturação da cadeia produtiva, o Projeto Jatobá prevê ações voltadas ao turismo de base local, inserindo-se ainda mais na rede mundial de estratégias e de cooperação pelo bem comum.

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